Photographic trip
Ken Jacobs has been offering a huge number of his films on his Vimeo channel. It’s a terrific opportunity to catch up with one of the most inventive and prolific filmmakers of the past sixty years. There are currently 250 videos (and counting), only a few of which are excerpts of longer films. The majority are complete works which range from 30-second Eternalisms to feature-length, employing a wide range of devices, from painting to monoscopic 3D. Among the latest additions is Shelley Duvall is Olive Oyl (2018), on which I presented a paper at the NYU Cinema Studies Student Conference two years ago, as well as the other three movies in his Popeye Quartet – recent explorations of producing 3D images that can be seen with one eye, without glasses.
While I have just begun to find my way through this massive amount of work, I’ve already been moved to words by the eight minutes of the 2009 short The Day Was a Scorcher. Jacobs’ films can be an irresistible invitation, because they often find a position where an artistic problem is posed, demonstrated, and dealt with in ways that are equally theoretical, technical, and aesthetic. But, more importantly, these three registers happen all at once. Since the theory, the technique, and the artistic drive self-reflexively coalesce as an attitude toward materials, their critical possibilities are exposed with impeccable clarity.
As is frequently the case with Jacobs’ films, The Day Was a Scorcher is fairly uncomplicated to describe, but the experience of watching it is hard to translate. The film uses digital technology – reframing, digital camera movements, superimposition, and the animation of moving Eternalisms, with their characteristic U-shaped sense of depth – to manipulate a small collection of 35mm photographs of the Jacobs family – his wife Flo, and their children, Nisi and Azazel – taken in Italy decades ago. There are occasional title cards that combine technical definition (“Cyclopian 3D” opens the film, locating it as part of Jacobs’ research on one-eye 3D imagery) and emotional charge (“Life with a beautiful woman,” says the following title card), providing context for the images without repeatedly invading their space. The film comes without a soundtrack.
What is fascinating about this apparently simple film is how these few elements are clinically handled to produce a growing sense of warmth: the rigorous, mechanical theoretical ruminations live at the film’s soft emotional core. In order to find one, you must experience the other. It is, after all, a record of a family trip. And, in Jacobs’ hands, heart, and mind, this tag will be sectioned in every possible way, so it can open up like a flower.
Definition of trip: intransitive verb (for the work of Ken Jacobs is powerfully intransitive, which makes it as close to a verb as it is to a noun):
1: to catch the foot against something so as to stumble;
2: to make a mistake or false step (as in morality or accuracy);
3a: to dance, skip, or caper with light quick steps;
b: to walk with light quick steps;
4: to stumble in articulation when speaking;
5: to make a journey;
6a: to actuate a mechanism;
b: to become operative;
7a: to get high on a psychedelic drug (such as LSD) : TURN ON —often used with out
b: slang : FREAK.
These myriad definitions blossom in the act of watching the film – from the stumbling dance that creates the Eternalism to their psychedelic effect – folding these verbal representations back into to their material origin.
But what’s equally fascinating is that The Day Was a Scorcher is also a powerful meditation on photography itself. As records of a family trip, the still images are exposed for what they lack and that the authorial interference tries to restore: movement, depth, temperature, and texture, returning the precision of photographic indexicality to the company of its fabricated dissidents – (Neo-)Impressionism and Abstraction. The insistent stuttering of the Eternalism speaks both of photography’s capacity to encapsulate a moment and to the impossibility to arrest the flow of time, in a dance of love and desperation.
Yet, at the same time that The Day Was a Scorcher highlights the limitations of the family trip album before the in loco experience, the enamored animation of memory by Jacobs’ techniques mirrors the very experience of revisiting this album over and over again, looking for details that might revive a specific time and place – but also how one felt back then and there, and how it relates to how one feels here and now. In the eternal shuffle of the pages back and forth, what’s missing on each leaf might have seeped out of the pictures and puddled, concentrated, in the space between them.
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Viagem fotográfica
Ken Jacobs tem publicado diversos de seus filmes em seu canal no Vimeo. É oportunidade de ouro para se atualizar com a produção de um dos mais inventivos e prolíficos cineastas dos últimos sessenta anos. O número de vídeos já chega a 250 (sem fim à vista), dos quais uma pequena minoria é de trechos pinçados de filmes mais longos. Na maior parte, são trabalhos completos, de Eternalismos de 30 segundos de duração a filmes de longa-metragem, empregando uma ampla variedade de técnicas e dispositivos, da pintura à monoscopia 3D. Shelley Duvall is Olive Oyl (2018), filme sobre o qual realizei uma fala na NYU Cinema Studies Student Conference dois anos atrás, está disponível, assim como os outros três títulos da série Popeye Quartet – explorações recentes na produção de imagens 3D que possam ser vistas com apenas um olho, e sem óculos.
Muito embora eu tenha apenas mergulhado a ponta dos dedos nessa vastíssima coleção, já me vejo movido às palavras pelos oito minutos de The Day Was a Scorcher, curta de 2009. Os filmes de Jacobs às vezes nos fazem convites irresistíveis à reflexão, porque frequentemente encontram uma posição onde um problema artístico pode ser manifesto, demonstrado e articulado de maneiras igualmente teórica, técnica e estética. Mas, mais importante que isso, esses três registros acontecem de maneira sobreposta. Uma vez que a teoria, a técnica, e o impulso artístico se coagulam em uma atitude auto-reflexiva perante materiais, suas possibilidades críticas terminam expostas com clareza impecável.
Como é frequente na obra de Ken Jacobs, The Day Was a Scorcher é fácil de descrever, mas a experiência de assisti-lo é de difícil tradução. O filme usa tecnologias digitais – re-enquadramentos, movimentos de câmera digitais, sobreposições, e a animação dos Eternalismos, com sua característica profundidade em formato de U – para manipular uma pequena coleção de fotografias em 35mm da família Jacobs – sua esposa, Flo, e seus filhos, Nisi e Azazel – realizadas décadas atrás na Itália. Há cartelas ocasionais que combinam definições técnicas (“Cyclopian 3D” abre o filme, localizando-o como parte da pesquisa de Jacobs de imagens 3D para um olho só) e carga emocional (“A vida com uma mulher linda,” diz a segunda cartela), contextualizando as imagens sem invadir repetidamente seu espaço. O filme não tem trilha-sonora.
O que me fascina neste filme, aparentemente tão simples, é a forma como esses poucos elementos são clinicamente articulados para elevar sua temperatura: o rigor mecânico das ruminações teóricas vivem no aconchego de um centro emotivo. Para encontrar um é preciso experimentar o outro. Afinal, trata-se de um souvenir de uma viagem familiar. E, nas mãos, coração e mente de Ken Jacobs, essa idéia da viagem familiar – da “family trip” – é seccionada em todas as suas possíveis acepções, para que possa então se abrir, como uma flor.
Definição de “trip” (viagem): verbo intransitivo (pois o trabalho de Ken Jacobs é poderoso em sua intransitividade, o que o faz igualmente verbo e substantivo):
1: to catch the foot against something so as to stumble;
2: to make a mistake or false step (as in morality or accuracy);
3a: to dance, skip, or caper with light quick steps;
b: to walk with light quick steps;
4: to stumble in articulation when speaking;
5: to make a journey;
6a: to actuate a mechanism;
b: to become operative;
7a: to get high on a psychedelic drug (such as LSD) : TURN ON —often used with out
b: slang : FREAK.
Essas múltiplas definições desabrocham quando assistimos ao filme – da dança trôpega que produz o Eternalismo, até a expansão psicodélica de seu efeito – reconectando essas representações verbais à sua origem material.
Mas igualmente fascinante é que The Day Was a Scorcher seja também uma poderosa meditação sobre fotografia. Como registros de uma viagem de família, essas imagens fixas são expostas no que as falta, e que a interferência do autor tenta restaurar: movimento, profundidade, temperatura, e textura, reunindo a precisão da indexicalidade às dissidências que lhe foram fabricadas – o (Neo-)Impressionismo e a Abstração. O soluço insistente do Eternalismo fala tanto sobre a capacidade fotográfica de encapsular um momento quanto sobre sua impossibilidade em frear o escorrer do tempo, vibrando em uma dança de amor e desespero.
No entanto, ao mesmo tempo em que The Day Was a Scorcher sublinha as limitações do álbum de viagem da família diante da experiência in loco, a animação da memória enamorada pelas técnicas de Jacobs espelha a experiência de revisitar esse álbum com obsessiva frequência, buscando detalhes capazes de reavivar um local e um momento específicos – e também o sentimento que se teve lá, e como ele se relaciona ao “aqui” e ao “agora.” Neste passar-de-páginas eterno, o que falta a cada folha escorre e empoça, em máxima concentração, no espaço entre elas.
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