Full stop
Come Drink With Me is the perfect example of the modernity of King Hu’s cinema. A landmark wuxia that inaugurated a tradition of female protagonists in the genre, the film plots an intricate rhythmic pattern in which the tightly choreographed outbursts of action are interrupted by long pauses of near-stasis, which the director extends until they burst. The rapid-fire cuts of the martial arts numbers are stabbed by floating tableaux, in which the violence gets to pause and reverberate.
In the early fight sequence at a bar that introduces the mastery of Golden Shallow (Cheng Pei-pei), the female hero throws darts at one of her opponent’s hands, making him drop his sword from the mezanine. The action is shown in an underemphasizing medium shot that barely lasts two seconds, which is followed by a wide, 10-second long tracking shot in which Golden Shallow calmly walks towards the camera; in the background, at the left side of the composition, the dropped sword is stuck to a table, still vibrating. The actual moment when the sword hits the wood is in fact omitted, but its dramatic presence is magnified as a visual reverberation that shakes and fills the room.
The film breathes to this orchestration of short beats that seem to be there primarily to produce resonance – a contraction followed by an expansion that refuses relief, re-reading Hitchcock’s mastery of endless stretching the build-up of a scene through John Cage’s or Akio Suzuki’s attention to how the air sustains its own musicality. This trembling quality that heightens the fight sequences seems to also infiltrate plot and characters, whether it is in the drunken agility of the co-protagonist, the Drunken Cat (Yueh Hua), or in the feverish state experienced by Golden Shallow after she is hit by poisonous darts.
Come Drink With Me sets up the foundation of the genre to create enough space for the resonant air to travel. Although the musical quality of this formal procedure is quite obvious, the radicality of the operation is perhaps best expressed in a literary analogy: while the pauses are smoothly integrated in King Hu’s elaborate action sequences, the imbalance created by their accumulation generates its own kind of vertigo, like a text that uses words in order to emphasize the punctuation.
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O som da pausa
Come Drink With Me é o exemplo perfeito da modernidade do cinema de King Hu. Clássico wuxia que inaugura a tradição de protagonistas mulheres no gênero, o filme trama intricada padronagem rítmica na qual a precisa coreografia das explosões de ação é interrompida por longas pausas de quase repouso que o diretor infla até que estourem novamente. Os cortes rápidos nos números de artes marciais são atravessados por esses tableaux flutuantes, onde a violência estanca e reverbera.
Logo no começo do filme, na sequência de luta no bar que introduz as abilidades de Golden Shallow (Cheng Pei-pei), a heroína arremessa dardos na mão de um de seus oponentes, forçando-o a soltar a espada do alto de um mezanino. O ato é desenfatizado por um plano médio que mal dura dois segundos, e que é então seguido por um traveling mais aberto de dez segundos, que mostra Golden Shallow caminhando em direção à câmera; no fundo, do lado esquerdo da composição, a espada derrubada está fincada em uma mesa, vibrando após a queda. O momento exato em que a lâmina acerta a madeira é suprimido, mas sua presença dramática é amplificada como uma reverberação visual que balança e preenche o espaço.
O filme respira nesta orquestração de breves beats que parecem estar lá sobretudo para produzir ressonância – uma contração seguida de uma expansão que nega qualquer alívio, relendo a abilidade de Hitchcock em esticar ao infinito a preparação climática de uma cena por meio da atenção à musicalidade sustentada pelo ar em John Cage ou Akio Suzuki. Essa qualidade trêmula que se propaga nas sequências de luta parece também infiltrar o roteiro e os personagens, seja pela agilidade bêbada do segundo protagonista, Drunken Cat (Yueh Hua), ou pelo estado febril de Golden Shallow após ser alvejada com dardos venenosos.
Come Drink With Me erige a fundação do gênero para circunscrever o espaço onde o ar pode se movimentar. Apesar de a qualidade musical desse procedimento formal ser óbvia, a radicalidade da operação é talvez melhor expressa por uma analogia literária: embora as pausas sejam integradas sem sobressaltos às elaboradas sequências de ação de King Hu, o desequilíbrio progressivo criado pelo seu acúmulo produz sua própria vertigem, como um texto que usa palavras apenas para enfatizar a pontuação.
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